O sentimento de injustiça é explorado com maestria em Rebel Ridge, o filme de ação inteligente de Jeremy Salnier para a Netflix. O enredo simples abre espaço para um texto preciso e permite que Aaron Pierre brilhe na tela.
O conceito do filme é ótimo, e faz total sentido dentro da narrativa, embora alguns tenham se frustrado com a experiência ao esperar uma narrativa com uma violência mais visceral, culpa de quem editou o trailer.
Vamos então analisar um dos melhores filmes de ação do ano!
A nota para Rebel Ridge é 9
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Ultimamente, uma reação comum - e até certo ponto, justificada - é torcer o nariz quando vemos o famigerado emblema do N vermelho no pôster de algum filme ou série.
Portanto, quando nos deparamos com obras como Rebel Ridge, em que uma história sólida, inteligente e "original" é contada, é realmente uma grande surpresa.
Enredo
Os minutos iniciais coloca Terry Richmond em rota de colisão (literalmente, o jovem é atropelado) com a polícia de Shelby Springs e o joga em uma situação vexatória e potencialmente preconceituosa.
O dinheiro que Terry trazia em sua bolsa é afanado por uma dupla de policiais corruptos que se valem de sua autoridade para silenciar e ameaçar o protagonista.
Entretanto, o que acontece é o oposto. Richmond precisa do dinheiro para pagar a fiança de seu primo e para começar uma nova vida, e fará tudo ao seu alcance para reaver a quantia roubada.
Sua jornada o leva para a delegacia da cidade, onde ele percebe que há algo errado com a situação. Muito educado, propõe um ou outro acordo ao Chefe de Polícia Sandy Burnne, interpretado por Don Johnson, que simplesmente o ignora.
Com isso, Richmond não tem mais cartas para lançar, o diálogo não resolveu nada e ele precisa do dinheiro, o tabuleiro está posto para o conflito se desenrolar, e é exatamente o que acontece, mas não da maneira como esperamos.
Subvertendo Expectativas
Toda a preparação do primeiro ato é voltada para a construção do sentimento de injustiça que atinge ao espectador mais que ao personagem. A sensação que temos é a de que Terry é acostumado a ser tratado da maneira como é tratado.
Assim, ver o personagem de Aaron Pierre como um homem fraco e molenga é perfeitamente natural, e essa visão é completamente destruída quando descobrimos que Terry Richmond é, na verdade, um ex-fuzileiro naval, versado em uma arte marcial altamente letal.
O que é verdadeiramente interessante em Rebel Ridge é ver como um filme de ação, que poderia facilmente descambar para a porradaria e o tiroteio desenfreados, faz justamente o contrário.
Nosso protagonista é o ser mais letal do filme, mas se contém. Consciente de sua força e do que pode fazer com ela, Terry opta por não usar a violência mortal, mas sim a contentora.
Acrônimos do Filme
Após confrontar o Chefe de Polícia, Terry menciona alguns acrônimos, que fazem referência a seu tempo no Exército. Pesquisando um pouco, descobrimos que eles de fato existem, o que traz mais solidez ao roteiro e demonstra o comprometimento de Salnier em aproximar a ficção da realidade, potencializando o lado reflexivo do longa.
MCMAP
o primeiro deles é MCMAP (Marine Corps Martial Arts Program) o Programa de Artes Marciais do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos que combina diversas técnicas de combate corpo a corpo. O programa enfatiza o uso responsável de força, além de ajudar a desenvolver o caráter.
PACE
“P” de primário, o plano inicial de resgatar o primo com o dinheiro. Falhando esse, Terry parte para a "A" a alternativa, o acordo com Sandy. Como esse é ignorado pelos policiais, passamos ao “C”, contingência, pedir mais dinheiro emprestado para seu antigo empregador.
Contudo, esse caminho é bloqueado pela polícia, que assedia o restaurante de seu antigo chefe, cortando mais esse plano. Passadas as três letras, ele é forçado a seguir para “E”, de emergência. É quando Terry decide usar de sua expertise em artes marciais para resolver a situação.
EoF NLE
o acrônimo EoF NLE é Escalation of Force Non Lethal Effects, algo como Escalada de Força Efeitos não Letais. Esse é usado com mais proeminência no terço final do filme, quando os policiais abrem fogo contra Terry, que lança mão de sua habilidade e autocontrole para incapacitar os inimigos, sem incorrer em mortes.
Personagens
Boa parte da aura de perigo do protagonista é expressa através do olhar focado e da postura corporal de Aaron Pierre, que cria uma tensão palpável, uma ideia de que ele pode, a qualquer momento, dar cabo de qualquer um.
E o que falar de sua escalação como o digníssimo John Stewart para a série Lanterns? James Gunn simplesmente acertou em cheio. Irá representar muito bem nosso amado Lanterna Verde.
Todavia, essa tensão criada pelo roteiro e pela atuação de Pierre nunca chega a ser consolidar de fato, o que pode frustrar os fãs mais hardcore do gênero.
Vale ressaltar, também, que até mesmo os antagonistas do filme não são meros agentes do caos e da desordem, eles fazem o que fazem por uma razão, e, cá entre nós, é compreensível e factível. O que não invalida a imoralidade e ilegalidade de suas ações, claro.
Temos ainda a personagem de AnnaSophia Robb, Summer McBride como a assistente de direito e ex-viciada em heroina que se compadece da situação de Terry e investe no forasteiro, mirando uma perigosa investigação sobre a corrupção da polícia local.
O Final
O arco principal é finalizado, ou caminha para uma finalização, contudo, o texto deixa em aberto algumas situações, que pouco impacto causam à história construída até o momento.
O final também é bastante controverso, pessoalmente, esperava uma conclusão mais definitiva. Era certo que ele não iria acabar com a corrupção na cidade, até por que, caso isso acontecesse, não seria crível.
Conclusão
A decisão de Jeremy Saulnier de usar a violência como parte da história a ser contada e não como mero artifício visual e de impacto é ousada e acertada. Em vez de apelar para a ação explosiva, o diretor constrói a tensão através da atmosfera opressiva da cidade e da atuação do elenco.
E aí, já assistiu a Rebel Ridge? Não? O que tá esperando para curtir a jornada de violência e de estudo moral de Terry Richmond?