O poder da série Pinguim (The Penguin) reside em sua capacidade de retratar Gotham e seus personagens sob uma nova ótica, desviando-se daquela que vimos em The Batman(2022).
Desde o tom da narrativa à fotografia e trilha sonora, passando pelos personagens, o show busca criar uma personalidade única ao contar uma história repleta de violência, ambição e jogos de poder.
Neste artigo, você confere uma crítica detalhada sobre o primeiro episódio de Pinguim, After Hours. Narrativa, atuações, fotografia e o que esperar dos próximos episódios.
A nota para After Hours é 8,5
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O Enredo do Primeiro Episódio
O episódio começa com um compilado de notícias televisivas, relembrando os eventos do final de The Batman. Tal abordagem oferece uma sensação de continuidade e familiaridade, contudo, logo fica claro que The Penguin tem uma proposta diferente.
O enredo do episódio é simples e se desenvolve de forma cadenciada, priorizando a construção dos personagens em detrimento de uma trama mais acelerada. O que é natural, pois todo início deve apresentar seus personagens, expor suas motivações e colocá-los em uma jornada, física ou emocional.
Em Pinguim, temos as duas. Ozz (Oswald Cobblepot) está determinado a conquistar mais poder e não medirá esforços para isso, como fica claro logo no início do show e, novamente, no final.
"O mundo não foi construído para caras comos nós. Por isso, temos que pegar o que decidirmos que é nosso".
Sua jornada envolve o roubo de um carregamento de uma nova droga. Acredito que pode ter ligação com a toxina do medo do Espantalho ou o veneno de Bane — teorias que deixam os fãs empolgados para os próximos episódios. Façam suas apostas.
Destaques do Episódio
Um dos pontos mais surpreendentes do episódio foi o tom humorístico inserido, algo inesperado para uma série focada no mafioso Pinguim. Uma surpresa e, sinceramente, não gostei muito.
Veja bem, não sou daqueles que desprezam o riso e sonham com um mundo sombrio e sério, longe disso. Contudo, a inserção do humor pareceu-me forçada e má-executada. Esperarei para ver como esse elemento será incorporado ao longo da série.
Outro ponto que pesou contra foram algumas linhas de diálogos imaturos, além da fraca decisão de Ozz em poupar a vida de Vic, após afirmar, categoricamente, que era necessário matá-lo, e realmente era.
Essa escolha poderia ter sido mais convincente com um melhor desenvolvimento, talvez explorando a manipulação emocional entre os personagens ou acrescentandao mais cenas de interação entre eles.
Por outro lado, merece destaque a tensão construída ao longo do episódio, que é excelente, especialmente com a introdução da fera com rosto de anjo, Sofia Falcone, interpretada por Cristin Milioti, que rouba a cena em cada aparição.
O plano de Ozz foi tão bem executado que até eu fiquei surpreso com o desfecho do episódio. Que sujeitinho ardiloso, esse pinguim. Um roteiro inteligente e eficaz que surpreende e reafirma o caráter astuto do vilão.
O Conflito Central
O motor da trama é, como era de se esperar, um assassinato. E que execução primorosa — da cena e do Albert Falcone! Com a morte de Carmine Falcone e a confusão instaurada em Gotham, todos querem um pedaço da cidade. Ozz não ficaria de fora, e sua ambição, aliada a seu instinto, o faz disparar sua arma em um momento de vulnerabilidade e ódio.Colin Farrell está um monstro como Pinguim, explorando todas as camadas do personagem com a liberdade e profundidade que somente um show de longa duração pode oferecer
Sua dinâmica com Francis Cobb evoca a conturbada relação entre Tony e Livia Soprano, mas com nuances próprias que podem e devem ser ainda mais exploradas ao longo da série.
Talvez Lauren LeFranc, a idealizadora do primeiro derivado de The Batman, queira emular o plot da icônica série e usar a mãe de Oz como catalisador para sua transformação irreversível em chefão de Gotham.
Quem assistiu à estupenda primeira temporada de Família Soprano, sabe do que estou falando, ou tem uma noção.
Atuações: Colin Farrell Brilha Como Pinguim
Colin Farrell oferece uma interpretação impressionante, equilibrando uma tímida melancolia, vista brevemente nos olhos de Ozz, com seu comportamento violento e desesperado por poder. A admiração com que ele fala de Rex Calabrese, revela muito sobre sua psiquê e abre uma janela de aproximação emocional para o espectador.
E o que dizer da psicopata sorridente, Sofia Falcone, interpretada brilhantemente por Cristin Milioti? Um destaque inesperado e bem-vindo. Sua introdução, com a câmera deliberadamente focando em Ozz e sua reação enquanto a silhueta da "Carrasca" surge, muda imediatamente o equilíbrio de poder na narrativa.
"Sabe, Oz. As pessoas te subestimam, mas não eu".
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Detalhes Técnicos e Cinematografia
A cinematografia de The Penguin é um dos pontos altos da série, replicando a atmosfera torpe e sombria vista em The Batman, mas adicionando sua própria identidade visual.
Enquanto no filme predominavam as cenas noturnas, a série oferece tomadas diurnas que revelam uma Gotham diferente — destruída, destituída de esperança, mas incrivelmente rica em detalhes.
Há uma elegância no movimento da câmera que desloca-se ora com leveza, ora com agilidade pelas ruas de uma Gotham destruída. Os enquadramentos reforçam a história apresentada, comunicando visualmente as emoções dos personagens.
Trilha Sonora
A trilha sonora é assinada por Mick Giacchino — sim, filho do mestre Michael Giacchino, compositor da trilha sonora de The Batman —, que toma emprestado as notas graves e secas do longa e acrescenta percussão, elevando o suspense e a tensão, ao mesmo tempo em que flerta com o cômico.
Há ainda arranjos de corda que tornam a experiência deliciosamente angustiante, como unhas arranhando uma lousa negra. O uso do som amplifica os sentimentos e direciona a sensibilidade do especetador de forma magistral.
Expectativas para os Próximos Episódios
A partir dessa semana, vamos acompanhar a saga do criminoso de Gotham religiosamente. Os episódios serão lançados todo domingo às 22 horas, horário nobre. Já temos a crítica do segundo episódio.
A Max liberou um trailer do que nos aguarda nos próximos episódios, que você confere logo abaixo, e não poderíamos ser melhores servidos. Intrigas, explosões e violência desregrada, há de tudo.
Conclusão
Com um início sólido, The Penguin tem potencial para se destacar como uma das melhores produções da HBO e da Max. A série equilibra uma abordagem moderna de uma história clássica, com uma estética marcante e performances poderosas, especialmente de Colin Farrell e Cristin Milioti.
A presença, ou, nesse caso, a ausência de Batman/Bruce Wayne sequer é sentida, pois a narrativa desenvolve-se de forma independente do filme, embora tome emprestado muitos elementos dele.
Esbanjando um apelo estético poderoso e firmado na proposta ousada de aprofundar a história do criminoso mais famoso de Gotham, o show é uma agradável mescla entre quadrinhos e televisão.
Se o desenvolvimento dos personagens continuar sendo o foco, e a narrativa manter o nível técnico elevado, The Penguin entregará uma jornada inesquecível pelas ruas sujas e corruptas de Gotham.
E aí, já assistiu ao primeiro episódio de The Penguin? O que achou, qual sua nota para o episídio? Deixe seu comentário abaixo e compartilhe suas impressões sobre o show!
Leia a crítica de todos episódios de The Penguin.