Um Bruce Wayne parrudo e cheio de raiva luta com um Alfred veterano de guerra pelo posto de vigilante de Gotham enquanto os "Party Animal" aterrorizam as ruas da cidade do crime.
Absolute Batman é um esforço narrativo e visual da dupla Scott Snyder e Nick Dragotta para reinventar o Cavaleiro das Trevas, porém, acima de tudo, é um novo olhar sobre Gotham e seus elementos icônicos que foram construídos ao longo dos anos.
Com uma premissa no mínimo instigante, estamos diante de uma obra de peso, tanto para o universo DC quanto para os quadrinhos de heróis em geral.
Batman Absolute não traz inovação no sentido literal, mas, sim, introduz elementos "estranhos" ao morcego. É ousado e muito arriscado, mas, até o momento, está dando certo.
Contém spoilers
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Sobre Quadrinhos Ocidentais
Antes de ler Absolute Batman, não pretendia fazer análises ou críticas de quadrinhos ocidentais, especialmente, porque sentia que a magia desse universo havia se perdido entre histórias pouco inspiradas ou a saturação do gênero através de remakes e reinícios eternos.
Assim, não disponho de um vasto conhecimento sobre o mundo dos quadrinhos dos últimos anos, a última história que li foi a ótima "O Relógio do Juízo Final" e "Harleen", mas, espero, pouco a pouco reconstrui-lo.
Confesso que quando vi a primeira imagem do suposto Batman Absoluto não gostei nem um pouco. Visualmente, é muito diferente da versão que estamos acostumados, e ele usar um machado então, blergh!
Contudo, mantive a mente aberta e as expectativas baixas, e, conforme foram saindo as notícias e o universo Absolute foi ganhando forma, passei de curioso a ansioso por esse novo universo.
Um Batman sem a mansão, sem o mordomo e sem o dinheiro, como ele combateria o crime? A ideia me ganhou na hora, e foi assim que decidi ler Absolute Batman.
Universo Absolute
Esse novo universo é uma criação de Darkseid, e nele acompanharemos versões alternativas e distintas dos personagens principais, será uma história em paralelo com a linha principal da DC.
Por enquanto, está confirmado Batman, Superman e Mulher-Maravilha para ser publicado este ano - há ainda Absolute Green Lanter e Absolute Flash, mas pouco se sabe sobre. Pretendemos ler e analisar todos os títulos desse universo. Estamos trabalhando em um guia com as informações reunidas sobre essa nova iniciativa.
Batman Absolute, ao que tudo indica, terá cinco edições - até o momento -, com a primeira lançada em 9 de outubro e intitulada de "O Zoológico". A iniciativa foi um sucesso tremendo, com a segunda reimpressão já esgotada e com a terceira prevista para chegar em Novembro deste ano.
A próxima edição é a da Absolute Wonder-Woman, estreando em 23 de outubro e parece estar bem legal, com uma nova origem para Diana, que cresceu longe das Amazonas e tem umas espada à lá Guts de Berserk.
Absolute Superman lança em 6 de Novembro, e promete agitar as coisas com um Clark sem os Kent e mais isolado da humanidade.
Sem mais delongas, vamos analisar a excelente primeira edição.
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Enredo de Absolute Batman #1
Um Bruce criança em um zoológico ocupa a primeira página da edição ao lado de um morceguito, e então passamos para a Gotham atual, com um motociclista percorrendo as ruas sujas e decrepitas da cidade enquanto reflete sobre como ela está mudada.
Ouvimos, então, através de uma reportagem, sobre os Party Animal e seu terrível reinado de massacres e derramamento de sangue.
A cena parece sair diretamente do início de The Batman, e também a própria cidade parece beber da fonte do filme de Matt Reeves. Recentemente, o ilustrador confirmou a inspiração, leia a declaração de Dragotta aqui.
Logo, então, descobrimos que quem estamos acompanhando é, na verdade, Alfred Pennyworth, aqui, apresentado como um veterano infiltrado em Gotham - Uma ideia interessante que lembra um pouco o Alfred da saudosa Gotham da CW -, para "colher informações". .
Preparação
A cena seguinte é no ginásio do Croc onde finalmente conhecemos o Bruce Wayne desse universo. Um jovem enorme e cheio de raiva. Muito ousada a decisão de abordar o protagonista da revista depois das páginas inicias.
Acompanhamos seu treino enquanto retomamos a cena inicial no zoológico, que serve como motivação para Wayne estourar o saco de areia ao rememorar os acontecimentos daquele dia.
Descobrimos, através de sua conversa com Waylon e, depois, com uma fotografia de infância, que Bruce era amigo de Oswald, Selina, Harvey - um garoto de óculos que só pode ser o Charada - e do próprio Waylon.
A cena corta novamente para um iate e testemunhamos uma reunião entre os mafiosos Falcone e Maroni com o líder dos Party Animal que termina em uma brutal execução.
James Gordon é o prefeito da cidade e está sendo pressionado por seus cidadãos quando a Party Animal surge, pronta para meter bala em todo mundo, nesse momento, entra o Cruzado Encapuzado.
Confronto
O Batman aqui é violento e intimidador, mas também não mata, apenas deixa seus inimigos ligeiramente incapacitados. As cenas de luta são ótimas e as novas habilidades do morcego são exploradas.
Acontece um breve confronto entre Alfred e Batman, com esse último derrotando o primeiro, e a cena corta para a narração de Alfred, que, após fazer sua pesquisa, nos conta sobre quem é esse Bruce Wayne.
após localizar Bruce, um último embate entre o veterano e o morcego termina com Alfred recebendo uma saraivada de mini bat-rangues na cara e com o Batman saltando de um prédio com a moto roubada de seu inimigo.
O Homem Que Nunca Ri
A edição fecha com um epílogo apresentando o Coringa deste universo, um homem sinistro, rico e altamente perigoso e, o mais interessante, que nunca ri.
Visual
A primeira edição é selvagem. A arte de Dragotta é poderosa e muito estilizada e as cores de Frank Martin inundam as páginas com vibração e aspereza. Um traço preciso e limpo nos diálogos e mais caótico e enérgico nas cenas de ação.
O artista utiliza muito bem seu espaço, com enquadramentos precisos que sustentam o texto ágil de Snyder, mas que também contam uma história própria.
Tom Narrativo
O tom geral da edição é sério e sombrio, quase mórbido. Isso é graças as cores contrastantes e o enredo focado nas atrocidades cometidas pelos Party Animal e no violento embate entre os marginais e um Batman enraivecido.
A narração em off de Pennyworth, imprimindo suas impressões e expectativas sobre Gotham, também trabalha para reforçar essa atmosfera desoladora, assim como os momentos em que vemos a população acossada e amedrontada.
Heróis e Vilões
Bruce Wayne
Uma das coisas mais legais em Batman Absolute é o Bruce. Vemos uma versão completamente nova do personagem, sem o carisma ou o dinheiro de sua contraparte.
A tragédia pessoal ainda é o que o motiva a vestir o manto e a combater o crime, no entanto, descobrimos que apenas seu pai, o professor Thomas Wayne, foi morto, e sua mãe está viva e trabalha como assistente social.
Detalhes que adicionam uma camada psicológica interessante ao personagem. Certamente que, em algum momento, Bruce deve encarar uma situação em que Martha esteja em perigo.
Outro ponto bem bacana é o fato de esse Bruce ter trabalhado em vários locais de Gotham, desde o saneamento, passando pela prefeitura, até construção civil, o que lhe permite uma visão mais íntima e detalhada da cidade.
Ele ainda conserva a inteligência, estudou mecânica-aplicada, psicologia criminal e sociologia - atualmente é engenheiro - e a desenvoltura em artes marciais, o que lhe permite ser tanto detetive quanto um tanque quando necessário.
O Novo Batman
Para além da persona Bruce, o Batman está totalmente repaginado, no visual e na ação - nem mesmo suas orelhas escaparam.
A capa do morcego é, também, uma arma, servindo como chicote para atacar seus inimigos. Suas orelhas, são lâminas projetáveis e o símbolo em seu peito transforma-se na cabeça de um monstruoso machado.
- capa chicote que estica e endurece;
- orelhas do capacete que viram lâminas;
- símbolo do morcego como machado
Ele está muito mais bruto e "poucas ideias", como vemos na cena em que o homem morcego decepa a mão de um dos macacos, e, logo depois, brada irado que irá fazer o mesmo com quem continuar na sua frente.
Ainda assim, há indícios de que será equilibrado entre ação e investigação, como na passagem em que ele estuda uma das máscaras da gangue macaco e, ao final, o vemos de frente para um setup de telas em uma torre isolada.
Alfred Pennyworth
Alfred serve como os olhos do leitor nessa Gotham escabrosa. A história principal desenrola-se através de sua ótica. Seu personagem é o típico soldado durão que segue ordens sem questionar.
É altamente especializado, tendo servido em Saigon e Cartum. O Batman entra em seu radar assim que interfere em sua missão de vigilância sobre os Party Animal, no entanto, o velho de guerra leva a pior, nas duas vezes em que enfrenta o morcego.
Party Animal
Os grandes vilões da edição, um grupo de extremistas que vestem roupas de baile e escondem-se atrás de crânios de macaco, violentos e desalmados.
Munidos de arma e muita cobardia, são a encarnação do terror e do mal, como ficamos sabendo ao lermos que a gangue assassinou uma mulher e um bebê. Scott Snyder não está para brincadeiras.
Não sabemos ainda a motivação por trás desses terroristas, mas parecem que querem dominar o submundo de Gotham. É o que depreende-se após o suposto líder da gangue, Roman Sionis, o Máscara Negra, assassinar os chefes Falcone e Maroni no iate.
Melhores Quadros
A arte de Dragotta aliada às cores de Frank Martin é memorável e linda, merecendo um sessão dedicada a alguns de seus quadros. Eis aqui alguns dos frames que mais gostei desta edição.
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Conclusão
Com uma narrativa densa e um ritmo equilibrado entre ação, mistério e um pouco de terror, temos um excelente início de universo e uma das melhores abordagens do Batsy no presente momento.
Scott Snyder entrega uma história rica e muito bem-desenvolvida ao mesmo tempo em que planta ganchos para a continuação. A arte de Nick Dragotta faz valer a pena folhear cada página, com cenas intensas ou mais suaves, mas sempre bem-feitas.
Absolute Batman é o homem-morcego em seu estado mais brutalizado, envolvente e hipnótico. A história nos entrega uma trama cheia de segredos a ser desvendados e um novo Bruce Wayne a ser conhecido.
Esperamos que as próximas edições mantenham o ritmo e a qualidade, e também intensifiquem os acontecimentos.
Eu sei, eu sei! Pode ser pedir demais, porém, é impossível não ficar empolgado com o que nos foi apresentado!
